LEX UNIVERSAL LOGO

Novidades Jurídicas

Lawtechs são ignoradas por 60% dos advogados

Notícias

Lawtechs são ignoradas por 60% dos advogados

29/11/2022 / Publicações / POSTADO POR Portal Valor

Embora o Brasil seja chamado de “o Vale do Silício do direito”, com cerca de 100 mil escritórios e mais de 1,3 milhão de advogados, quase 60% dos profissionais não sabe o que é uma lawtech ou legaltech - startups que desenvolvem soluções tecnológicas para a área jurídica. O dado é do levantamento “Clientes e Advogados - Expectativas vs Realidade”, sobre o impacto da tecnologia no direito, desenvolvida pela AB2L (Associação Brasileira da Lawtechs e Legaltechs) e a Lexly.

O motivo para esse resultado pode ser outro dado revelado pela pesquisa: 65,9% dos advogados são autônomos. “São profissionais que não têm nem uma sociedade unipessoal, um CNPJ, o que indica uma gestão autocentrada, não voltada para o cliente”, analisa Daniel Marques, presidente da AB2L, entidade que congrega mais de 600 lawtechs, legaltechs, escritórios de advocacia e autônomos. O estudo cita que o “Guia da Carreira”, de 2021, aponta um salário médio de R$ 3 mil para a categoria no país.

O levantamento foi feito por meio de questionário on-line com 1,5 mil pessoas representantes da população em geral, das quais 959 já contrataram serviços advocatícios, e 519 advogados, distribuídos por todas as regiões do Brasil e faixas etárias compatíveis com a distribuição populacional, segundo o IBGE. Esse estudo apresenta um grau de confiança de 95%, com margem de erro estimada em 2%.

Para Marques, o que mais surpreendeu é que, apesar dos avanços em relação ao uso da tecnologia pela categoria na pandemia, a gestão ainda é muito amadora quando se fala em adoção de tecnologia para se relacionar melhor com o cliente. “Só 28,1% dos advogados usam alguma lawtech ou legaltech”, diz.

Contudo, para 72% de potenciais clientes, advogados deveriam usar mais ferramentas tecnológicas para se relacionar com eles. Além disso, apenas 33,1% acreditam que a advocacia está à frente de outros setores quando se fala em adoção de tecnologia.

Segundo Juliana Barbiero, CEO da Lexly Brasil, isso mostra que os clientes não querem o que os advogados acham que eles querem. “Espera-se que os dados da pesquisa facilitem, para as empresas de tecnologia jurídica, construir soluções que ajudem os advogados a atingir as reais necessidades dos clientes”, afirma.

No levantamento, o motivo mais apontado pelos advogados para não se usar tecnologia jurídica é o alto custo (32,71%). Para Marques, da AB2L, isso é uma “falácia”. “Anos atrás só com muitos recursos financeiros se podia ter essa tecnologia. Mas hoje em dia há ferramentas inclusive gratuitas à disposição”, diz. “Ou perde-se capacidade competitiva.”

O vice-presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Leonardo Sica, confirma que, no Estado, a maioria dos advogados atua de forma independente. “Essa é a realidade da grande maioria dos advogados e ela traz consigo desafios diferentes dos profissionais que atuam em escritórios e contam com o apoio de outros setores”, afirma. “Eles precisam também ser gestores da sua rotina, conhecer de tecnologia, de melhor atendimento ao cliente.”

É levando em conta esse cenário que a OAB-SP tem investido no aperfeiçoamento e profissionalização dos advogados, segundo Sica. “Hoje, por exemplo, o advogado inscrito na OAB-SP tem acesso a uma série de vídeos e iniciativas que o auxiliam no início da carreira”, diz. “Também possuímos grupos de trabalho específicos de diálogo com os tribunais estaduais [TJSP e TRTs] com o objetivo de colaborar no aprimoramento dos sistemas e, ainda, garantir que advogados e clientes não sejam lesados por instabilidades. Essa é uma das prioridades da nossa gestão.”

Mas, para Sica, tecnologias que poderiam automatizar rotinas desses advogados independentes, infelizmente, ainda são caras para o profissional liberal. “Existe a ideia de que o advogado é refratário à tecnologia, mas a questão está mais relacionada à democratização desses softwares jurídicos”, afirma. “Inúmeros escritórios de pequeno e médio porte já usam muita tecnologia e automação, mas nossa meta é apoiar também esses profissionais independentes a terem acesso de forma viável aos recursos tecnológicos existentes no mercado.”

Hoje, as ferramentas mais usadas são plataformas de conteúdo, educação e consultoria jurídica (70,33%), 26,78% com frequência e 43,55% às vezes. Em segundo lugar estão as de monitoramento e extração de dados públicos (64,55%), 21,39% com frequência e 43,16% às vezes.

*O texto reflete a opinião dos autores e não representa o LexUniversal. 

COMPARTILHE ESSA PUBLICAÇÃO

ASSUNTOS RELACIONADOS

PublicaçõesNotícias